Um Ícone da Navegação em Terra Firme
Em dezembro de 2020, um evento singular marcou a história da navegação brasileira e a trajetória de Aleixo Belov. Para abrigar o histórico veleiro Três Marias, embarcação que o navegador ucraniano-brasileiro utilizou em suas três primeiras voltas ao mundo, foi necessário um ato drástico: o corte de seu mastro. Esta intervenção, embora dolorosa para Belov, foi essencial para a inauguração do Museu do Mar Aleixo Belov, em Salvador, cinco anos após o ocorrido, em 2021.
A Saga do Três Marias e a Paixão de Belov
Aleixo Belov, renomado por suas cinco voltas ao mundo em embarcações construídas por ele mesmo, iniciou sua jornada épica com o Três Marias. Fabricado no quintal de sua casa, o veleiro Bruce Robert de 36 pés partiu em março de 1980 para sua primeira circum-navegação. A aquisição dos materiais, segundo relatos do próprio Belov em sua obra ‘A Volta ao Mundo em Solitário’, foi feita com recursos limitados, demonstrando a determinação em tirar o projeto do papel. O nome ‘Três Marias’ é uma homenagem às suas filhas e ex-mulher, Maria, um batismo que, para Belov, se revelou predestinado às três voltas ao mundo que a embarcação realizaria.
Um Desafio Arquitetônico e Emocional
A instalação do Três Marias no casarão tombado que abriga o Museu do Mar, localizado no centro histórico de Salvador, apresentou um desafio logístico considerável. O mastro do veleiro, com seus 13,20 metros, era significativamente mais alto que o pé-direito do edifício, que mede 10 metros. Apesar de ter obtido permissão verbal do Iphan para uma adaptação no teto, a negativa escrita posterior forçou a difícil decisão do corte. Belov descreveu o ato como uma ‘mutilação’, comparando-o a ‘tirar a alma’ de um velejador, uma vez que o mastro havia resistido a todas as tempestades de suas longas viagens.
O Legado de um Navegador e seu Museu
O Museu do Mar Aleixo Belov não abriga apenas o Três Marias, mas também uma vasta coleção de objetos, cartas náuticas, fotografias e lembranças de todas as expedições de Belov. O veleiro, mesmo sem seu mastro original — que é exposto ao lado —, continua sendo a joia da coroa do acervo. A embarcação de oito toneladas foi içada por um guindaste de grande porte, em manobras milimetricamente calculadas para preservar tanto o casco quanto a estrutura do prédio histórico. O museu é um testemunho vivo das aventuras de um dos mais notáveis navegadores do Brasil, celebrando sua paixão pelo mar e sua capacidade de transformar sonhos em realidade, mesmo diante de sacrifícios.

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